A estudante de Doutorado Tereza Rafaella Cordeiro Maciel, do Programa de Pós-graduação em Sociologia (PPGS), da Universidade Estadual do Ceará (Uece), foi uma das candidatas selecionadas na Convocatória do Certificado en Estudios Afrolatinoamericanos, do Afro-Latin American Research Institute, da Universidade de Harvard.
O curso, que será virtual e terá a duração de seis meses, está direcionado ao estudo das experiências, histórias, contribuições e desafios da população afrodescendente na América Latina desde a época colonial até ao presente, com o enfoque da justiça racial. Foram selecionados 60 bolsistas, oriundos de países da América Latina e do Caribe.
Tereza Rafaella explica que o curso investiga e tenta desmontar os mecanismos de poder que reproduzem estruturas de desigualdade, ideologias e culturas que sustentam o racismo contemporâneo e o colonialismo, principalmente dentro de países colonizados, como o Brasil. Em sua pesquisa de doutorado, sob orientação da professora Lia Pinheiro Barbosa, intitulada “As Disputas de Narrativas no Campo Feminista Digital em Contextos Afro-Latino-Americanos: Olhares acerca dos Impactos da Pandemia na vida das Mulheres e de Grupos LGBTQIA+”, a pesquisadora investiga as disputas de narrativas dentro do campo feminista digital, acerca de todos os impactos provocados pela pandemia não só no Brasil, mas em países da latino-américa. “E não apenas os impactos da pandemia, mas os impactos contemporâneos a que vêm sendo sujeitadas e submetidas as populações mais vulneráveis, como as mulheres latinas, negras, indígenas e, também, os grupos LGBTQIA+”, explica Tereza.
Segundo a doutoranda, o intuito do certificado é mostrar a riqueza e variedade dentro do campo de estudo afro e latino-americano sobre a história, a cultura, a economia, a arte e a política dessas regiões e visando contribuir com pessoas afrodescendentes, criando uma alternativa acadêmica aos planos de educação mais tradicionais. “Muitas vezes, esses planos silenciam as contribuições históricas das pessoas afrodescendentes e latino-americanas na estrutura de conhecimentos, onde geralmente há um racismo epistemológico. O que eu busco trazer na minha pesquisa é, pelo menos, tentar lutar pelo fim da reprodução do machismo, da misoginia, do capitalismo racista, eurocentrado e neoliberal que hoje se sustenta principalmente em países latino-americanos, como o Brasil. E hoje a gente tem um público que sofre muito com relação a isso, como as mulheres indígenas, negras, camponesas, que estão sofrendo de forma muito mais acentuada os impactos da pandemia e a maneira como esses impactos estão sendo geridos pelos governos. E geralmente são governos autoritários os que estão à frente dos países latino-americanos atualmente”, reflete a pesquisadora.
Tereza destaca o apoio e o incentivo da professora Lia Pinheiro Barbosa, que elaborou sua carta de recomendação para o certificado, e do Programa de Pós-graduação e Sociologia (PPGS) da Uece para a inscrição no curso. Lia Barbosa destaca que o Afro-Latin American Research Institute, da Universidade de Harvard, é um renomado instituto de pesquisa acerca da história e da cultura dos povos africanos e afrodiaspóricos da América Latina e do Caribe. “Ser selecionada para participar do Certificado en Estudios Afrolatinoamericanos é uma oportunidade ímpar de ter acesso a uma formação acadêmica em uma universidade de excelência, como é o caso da Universidade de Harvard, aprofundando os estudos na área e ampliando o intercâmbio de experiências acadêmicas com outros pesquisadores e pesquisadoras em uma rede de pesquisa internacional”, enfatiza a orientadora.
Para ela, a participação da aluna no Certificado em Estudos Afro-Latino-Americanos (ALARI) será oportuna para a aprendizagem de novas abordagens epistemológicas e de incursão teórico-analítica e empírica em torno das problemáticas de relevo concernentes à região e, em especial, para a própria pesquisa de Doutorado. Além disso, analisa Lia Barbosa, a experiência fortalecerá os indicadores de internacionalização no Programa de Pós-graduação em Sociologia, conforme as diretrizes da internacionalização da Pró-reitoria de Pós-graduação e Pesquisa (ProPGPq) e da Capes.
Outro fator que contribuiu para que fosse selecionada para o curso, segundo a aluna Tereza Rafaella, foi sua participação no seminário “Feminismos e Memória na América Latina”, realizado por meio de parceria entre a Uece com a Universidade Nacional Autônoma do México (Unam). De acordo com a doutoranda, o seminário, que acontece até agosto, vem discutindo vários assuntos importantes relacionados ao tema feminismos latino-americanos, em especial, em países como Colômbia, Equador, Nicarágua, Cuba e Brasil.
Temas
Tereza informa ainda que o curso abordará diversos aspectos, entre eles indicadores de desigualdade, escravidão, tráfico de escravos, relações afro-indígenas, legislação, ideologias de democracia racial, produção intelectual afrodescendente, formas de mobilização, produção cultural, religiões, migrações e abordagens transnacionais, instrumentos jurídicos internacionais sobre igualdade racial.
O curso será ministrado em espanhol e português, entre os dias 7 de setembro deste ano até 7 de março de 2022. Para receber o certificado, os bolsistas deverão entregar ao fim das aulas um trabalho acadêmico, em formato de artigo ou workshop.
Entre as instituições colaboradoras da iniciativa estão o Centro de Estudos Afro-Diaspóricos, da Universidade ICESI; o Grupo de Estudos Afro-Latino-Americanos (GEALA) da Universidade de Buenos Aires; o Instituto de História, Conselho Superior de Pesquisa Científica, de Madrid; o Programa Nacional de Pesquisa para Afrodescendentes e Diversidade Cultural, do Instituto Nacional de Antropologia e História do México; a Organização dos Estados Americanos (OEA) e a Rede Interamericana de Altas Autoridades de Política para População Afrodescendente (Riafro).