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O passado do local onde hoje é o Centro de Convivência Antônio Diogo (CCAD), em Redenção, é marcado por histórias de dor e solidão. Mas também há esperança.

Com 93 anos de assistência a pessoas com hanseníase, o espaço, no qual diagnosticados com a doença infectocontagiosa eram isolados compulsoriamente, mantém um importante papel no Estado no acompanhamento de pacientes que são acolhidos na unidade e no rastreamento e diagnóstico de novos casos.

O CCAD, mais antigo equipamento vinculado à Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa), conta com serviço ambulatorial de Dermatologia e promove a reabilitação física e social de pacientes, prestando um atendimento humanizado. Fundada em agosto de 1928, época em que não existia assistência e terapia especializadas para acometidos por hanseníase, a unidade funcionava como colônia, modelo institucional combalido desde a década de 1950. “Nesta época, a retirada das pessoas com hanseníase do convívio social era a única maneira de evitar a transmissão da doença”, explica Assis Guedes, diretor do CCAD e do Centro de Convivência Antônio Justa (CCAJ), estrutura semelhante em Maracanaú.

O CCAD é a unidade mais antiga vinculada à Sesa e promove assistência dermatológica sanitária

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Maria Auxiliadora, 87, mora na instituição desde seus oito anos de idade; ela chegou ao local quando a hanseníase ainda não tinha tratamento e o confinamento era a única opção

Maria Auxiliadora Meireles de Souza, 87, vive no local desde a fundação, quando ainda era colônia. Ela chegou com apenas oito anos e conta que sabia que não sairia mais de lá, mesmo antes do diagnóstico. “Estava muito assustada. Antes de ser examinada, sabia que não sairia mais daqui. Fui apoiada por um casal que já vivia na colônia. Eles me ajudaram muito, viraram uma família”, lembra.

Auxiliadora escreveu toda a sua história em meio às décadas no CCAD. Casou, criou cinco filhos, ficou viúva. “Meus filhos têm suas casas, suas vidas, mas estão sempre vindo aqui me visitar. Tenho também 18 bisnetos”, sorri ao contar. “Eu tenho acompanhamento 24 horas por dia, sou bem tratada, posso receber meus filhos e tenho boas relações”, continua.

Assim como ela, outras 11 pessoas moram no equipamento desde os tempos em que viver com hanseníase era conviver com a solidão. Residem também no local 46 famílias daqueles pacientes que, por algum motivo, não conseguiram ressocializar.

Além da atenção à saúde, o CCAD realiza um trabalho importante para a reinserção de pacientes diagnosticados com hanseníase na sociedade. “Temos um grupo de convivência que promove o fortalecimento dos vínculos e integração social”, pontua Guedes. O coletivo trabalha com ações voltadas para gerontomotricidade, socioeducativo, arte e experiências vividas.

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Mais de mil atendimentos em 2021
O CCAD é uma unidade de assistência dermatológica sanitária, com ênfase em hanseníase. Os usuários têm atendimento multidisciplinar. Em 2021, foram atendidas 1.022 pessoas no equipamento. Os casos diagnosticados no espaço são notificados ao município de origem do paciente.

Onze pacientes residem no equipamento desde os tempos em que viver com hanseníase era conviver com a solidão

“Temos uma equipe capacitada para a avaliação clínica, composta por um clínico-geral, dermatologista, enfermeiros e técnicos em Enfermagem; e para reabilitação, com assistente social, fisioterapeuta e terapeuta ocupacional”, sublinha o diretor. O atendimento ocorre mediante encaminhamento das Centrais de Regulação municipais e estadual.

Transmissão, sintomas e tratamento

A hanseníase é transmitida de pessoa para pessoa por secreções nasais, como tosse, espirro ou gotículas da fala. No entanto, nem todos que entram em contato com os bacilos desenvolvem a doença. As principais manifestações são: manchas claras ou avermelhadas pelo corpo, dormência e diminuição da sensibilidades em partes da pele, febre, inchaço em mãos e pés.

Atualmente, a doença pode ser diagnosticada e tratada pelo Sistema Único de Saúde (SUS), na Atenção Básica. Em Fortaleza, o Centro de Referência Nacional em Dermatologia Sanitária Dona Libânia, também da Rede Sesa, atende casos de maior complexidade, como reações adversas à terapia, intolerâncias medicamentosas, entre outros agravantes que não poderiam ser resolvidos na atenção primária.

Mudança no tratamento

Conforme novas diretrizes do Ministério da Saúde (MS), todos os casos de hanseníase, independentemente da forma que se apresenta, devem ser tratados com poliquimioterapia. O entendimento do órgão prevê adição do composto clofazimina ao tratamento, que já era feito com as substâncias rifampicina e dapsona. A terapia, com duração de seis a 12 meses e com diferenciação para crianças e adultos, sofreu mudanças desde julho de 2021.

De acordo com nota técnica, os pacientes diagnosticados a partir daquele mês com a hanseníase paucibacilar, com poucos ou nenhum bacilo nos exames, devem ser tratados com o esquema poliquimioterápico por seis meses. Os diagnosticados até 30 de junho de 2021 na forma multibacilar devem manter o tratamento por 12 meses.  

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