“Na vida, é possível vencer, crescer e ser novamente um cidadão. Esse sonho, que está dentro de mim, vai se tornar realidade”. Quero ajudar a minha família”. A frase é do jovem que cumpre medidas socioeducativas no Centro Socioeducativo Aldaci Barbosa (unidade feminina). Com o nome social de Gabriel, aos 18 anos, ele foi aprovado em segundo lugar no Enem, para o curso de Música, no Instituto Federal do Ceará -IFCE, no município de Crateús.
Gabriel chegou há cinco meses no Aldaci. Com constantes crises de ansiedade, encontrou na música uma grande saída para lidar com as situações adversas. Mas foi na sua terra natal, Nova Russas, aos 11 anos, que ganhou a primeira oportunidade de tocar um instrumento na Banda Municipal da cidade.
“Gosto muito de instrumentos de sopro. E o maestro reservou pra mim um clarinete. A gente começa errando, mas, com a prática, acaba dominando o instrumento”, conta. Hoje, além do clarinete, toca saxofone alto, trompete, bombardino, saxofone tenor, e está aprendendo teclado, violão e ukulelê.
Ele quer ir muito além. Pretende se formar em música e, quem sabe, um dia gravar um trabalho autoral, pois já escreveu diversas poesias em forma de música. Quanto à voz, já está se preocupando. As aulas de canto serão importantes nessa investida: “Hoje sou uma pessoa muito feliz. Agradeço a todos que me deram a chance de ser gente outra vez”.
Um grande exemplo
Gostar de escrever também é uma das virtudes dele. Tanto é que na prova do Enem obteve 720 pontos que colaboraram, em grande parte, com a segunda colocação para o curso de música. No Centro Socioeducativo Aldaci Barbosa, no evento Abraço em Família, Gabriel é atração. Na última edição, ele recitou o Poema “Sou Jovem”, onde apresenta a juventude como esfera de mudança para o mundo.
Para a psicóloga Mônica Dantas, que acompanha o dia a dia do Gabriel, trata-se de um talento e um exemplo para os demais que estão cumprindo as medidas socioeducativas no Aldaci.
“Por meio da música, ele melhorou sensivelmente dos momentos de ansiedade, só pensa em crescer, trabalhar e ajudar a sua família. É preciso que a sociedade veja, perceba que é possível essa ressocialização, transformando vidas. A unidade socioeducativa também é uma grande escola”, pontua Mônica Dantas.
Semiliberdade em Crateús
Os olhos da diretora do Aldaci Barbosa, Elisa Barreto, brilham quando vem à tona o nome do Gabriel. Um exemplo de que o trabalho vem evoluindo e as conquistas vão surgindo.
“Logo que ele chegou, fomos descobrindo suas habilidades. Em tão pouco tempo, passou a enxergar as coisas boas. E ele consegue fazê-las bem. As oportunidades devem ser aproveitadas. O Gabriel aprendeu isso e colocou em prática”, atesta Elisa Barreto.
No início desta semana, o jovem recebeu progressão para semiliberdade assinada pelo juiz da 5ª Vara da Infância e da Juventude, Dr. Manuel Clístenes, e foi transferido para o Centro de Semiliberdade de Crateús, local onde vai cursar a Faculdade de Música.