O artesanato é um trabalho que carrega entre linhas, agulhas e retalhos, traços de uma cultura popular. No sistema prisional, a Secretaria da Administração Penitenciária do Ceará, através da Coordenadoria de Inclusão Social do Preso e do Egresso (Cispe), tem fortalecido este trabalho através do projeto “Arte em Cadeia”.
O trabalho dentro das unidades funciona como elemento ressocializador, com finalidade educativa, produtiva e profissionalizante. São cinco unidades beneficiadas pelo artesanato, sendo o Instituto Penal Feminino Desembargadora Auri Moura Costa (IPF), a Unidade Prisional Irmã Imelda Lima Pontes e o Instituto Penal Professor Olavo Oliveira II (IPPOO II) responsáveis pela produção. Já a Casa de Privação Provisória de Liberdade Professor Jucá Neto (CPPL 3) e a Penitenciária Francisco Hélio Viana de Araújo (Pacatuba) ainda segue o processo de capacitação profissional.
Bordado, vagonite, ponto cruz, crochê, macramê, renda tenerife e fuxico são as técnicas ensinadas pelos profissionais artesãos que trabalham no projeto. Ao todo, 160 internos trabalham na produção e 30 estão em processo de capacitação.
Peças como bolsas, almofadas, panos de prato, caminho de mesa, jogo americano, tapetes, toalhas de bandeja, dentre outros artigos são produzidas diariamente pelas mãos habilidosas dos apenados. No total, são confeccionadas 500 peças por mês e distribuídas nos três pontos de vendas: Emcetur, Feirinha da Beira Mar e no Centro de Triagem e Observação Criminológica (CTOC). A renda arrecadada é revertida em prol do projeto, para a aquisição de mais materiais para a continuidade dos trabalhos.
Os internos artesãos, além de aprenderem uma nova profissão, recebem como benefício a remição de pena de um dia para cada três dias trabalhados na produção. A capacitação, além de preencher de forma funcional o tempo de reclusão, é uma oportunidade de reinserção social.
A Coordenadora de Inclusão Social do Preso e do Egresso da SAP, Cristiane Gadelha, ressalta que o maior objetivo da Secretaria é capacitar com outras técnicas as internas que estão nas alas e cada vez mais aumentar o número de mulheres envolvidas nessa atividade. “O Instituto Penal Feminino Auri Moura Costa (IPF) é uma das grandes unidades envolvidas. Hoje, nós temos 42 internas profissionais, trabalhando com as técnicas vagonite, ponto cruz, fuxico e crochê. Com esse trabalho, ao final da pena que estão cumprindo, elas poderão começar uma vida de empreendedora”, afirma.
Exemplos
A arte nas unidades prisionais contribui para o processo de humanização e ressocialização dos internos através dos trabalhos diversificados oferecidos pela Secretaria da Administração Penitenciária. O artesanato tal como outras atividades existentes dentro dos presídios têm reflexo transformador.
O interno Marcos Alves, do Instituto Penal Professor Olavo Oliveira II (IPPO II), é um dos participantes do projeto Arte em Cadeia. Ele destaca os benefícios da atividade. “É muito importante essa oportunidade que estamos tendo como uma forma de nos reintegrar na sociedade tendo uma profissão e melhorando nosso comportamento dentro do sistema prisional.
Nunca tinha feito artesanato na minha vida e hoje em dia desenvolvo facilmente o crochê. Também fiz curso do Senai de costura e desenrolo qualquer tipo de tecido para produzir. Quero ter a chance de conseguir um emprego. Sei que vai ser difícil, mas com essa profissão que eu aprendi tenho a esperança de mudar de vida”, afirma.
As peças produzidas pelos internos artesãos são vendidas, o que ajuda a elevar a confiança dos que participam do projeto e faz com que eles acreditem na ressocialização por meio do trabalho. Além disso, a exposição dos produtos é uma forma de valorização social de sua produção profissional. O interno José Maria Pinheiro, da Unidade Prisional Irmã Imelda Lima Pontes, se sente orgulhoso em saber que seu trabalho está sendo comercializado. ”Estou aqui há três anos e já desenvolvo muito bem a renda tenerife. Trabalhamos também com crochê de malha e macramê em redes. Esse trabalho desenvolveu muito minha mente e hoje me sinto uma pessoa melhor através da arte e da reintegração do grupo. É motivo de grande orgulho ver que o que estamos produzido está sendo bem visto pela sociedade e consumido nas feiras, na Emcetur e em outros locais”, comemora.
Para muitas internas, cada ponto de crochê têm um significado valioso. A interna Amora, da Unidade Prisional Irmã Imelda Lima Pontes, ressalta que o trabalho representa uma oportunidade de recomeço. “Nessa unidade, eu aprendi a manusear vários instrumentos para começar a fazer crochê e costura. Nós desenvolvemos várias atividades como aula de artesanato e produção de redes. Graças a essa oportunidade enfrentamos nossa realidade com mais facilidade. Me sinto muito orgulhosa por que estou trabalhando e tô vendo que meu trabalho está dando frutos lá fora. Graças a Deus estamos caminhando pra frente”, comemora.
A interna Maria do Amparo, do Instituto Penal Feminino Auri Moura Costa (IPF), está no artesanato há quatro anos e repassa seu conhecimento para outras companheiras de oficina. “É muito grandioso repassar sua experiência e trocar conhecimento constante. E o mais importante: passar que o crime não compensa. O que compensa mesmo é a nossa família, voltar pra sociedade, fazer o novo, o diferente. Aqui está sendo um aprendizado e estamos nos engrandecendo como seres humanos. A vida é pra ser vivida da melhor maneira e a melhor maneira é essa: ajudando as pessoas que realmente querem mudar de vida. Esse aqui é o lugar: no artesanato”, emociona-se.
Veja um video sobre o projeto “ Arte em Cadeia” :