No documento enviado ao presidente dos Estados Unidos, governadores se dizem ‘conscientes da emergência climática global’.
Em carta endereçada ao presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, governadores de 22 estados brasileiros propõem uma parceria para promover ações de preservação ambiental.
No documento, os governadores se dizem “conscientes da emergência climática global” e afirmam que estão abertos a estabelecer “um canal de interação” com o governo americano para avançar “em passos práticos”.
“Celebrando a decisão do seu governo em fortalecer a agenda ambiental internacional e o Acordo de Paris, expressamos nossa intenção de implementar ações conjuntas, propondo a cooperação entre os Estados Unidos e os governos estaduais brasileiros, responsáveis pela maior parte da Floresta Amazônica, a mais extensa floresta tropical do mundo, e de outros biomas que, somados, abrigam a mais ampla biodiversidade já registrada, e que são capazes de regular ciclos hídricos e de carbono em escala planetária”, diz trecho do documento.
Leia a carta na íntegra:
Brasil, março de 2021
Caro presidente Joe Biden,
Inicialmente registramos nossos cumprimentos e felicitações pela vitória eleitoral, com o desejo de muito sucesso na sua gestão com a vice-presidente Kamala Harris.
Governadores do Brasil, abaixo subscritos, que compreendem xx% do território nacional (esperamos que 100% assinem), manifestamos interesse no desenvolvimento de parcerias, visando impulsionar a regeneração ambiental, o equilíbrio climático, a redução de desigualdades, o desenvolvimento de cadeias econômicas verdes nas Américas e a criação de um novo modelo civilizatório saudável e resiliente a pandemias. A coalizão Governadores Pelo Clima, ampla e diversa, envolvendo progressistas, moderados e conservadores, de situação e de oposição, dos mais diversos partidos, sinaliza o desejo do Brasil por união e construção colaborativa de soluções em defesa da humanidade e de todas as espécies de vida que estão ameaçadas pela degradação de ecossistemas.
Conscientes da emergência climática global, os governos subnacionais brasileiros estão comprometidos com a redução dos gases de efeito estufa; a promoção de energias renováveis; o combate ao desmatamento; o cumprimento do Código Florestal para a conservação das florestas e da vegetação nativa; a melhoria da eficiência na agropecuária; a proteção e o bem-estar dos povos indígenas e a busca de formas consorciadas de viabilizar massivos reflorestamentos. Ações que, além da remoção de carbono e da proteção da biodiversidade, podem evitar futuras pandemias.
Visando avançar com visão sistêmica, velocidade e em larga escala, a aliança Governadores Pelo Clima, está estruturando políticas climáticas, sociais e econômicas interligadas e vem construindo intercâmbios com governadores dos Estados Unidos, lideranças da América Latina e governos da Europa e do Reino Unido, sede COP26, onde desejamos apresentar inovações e parcerias de alto impacto.
Celebrando a decisão do seu governo em fortalecer a agenda ambiental internacional e o Acordo de Paris, expressamos nossa intenção de implementar ações conjuntas, propondo a cooperação entre os Estados Unidos e os governos estaduais brasileiros, responsáveis pela maior parte da Floresta Amazônica, a mais extensa floresta tropical do mundo, e de outros biomas que, somados, abrigam a mais ampla biodiversidade já registrada, e que são capazes de regular ciclos hídricos e de carbono em escala planetária.
Para que a temperatura global não ultrapasse 1,5°C até o fim do século, a humanidade precisa reflorestar uma área do tamanho do território dos Estados Unidos. Nesse desafio, o Brasil pode ampliar o verde da Terra não apenas na Amazônia, mas também em biomas de grande capacidade de captura de carbono, inestimável biodiversidade e relevância socioeconômica, como Cerrado, Mata Atlântica, Caatinga, Pampa e o Pantanal que perdeu grandes áreas em incêndios em 2020. Nossa parceria pode somar rapidamente capacidade técnica, grandes áreas regeneráveis de terra e governanças locais, com a imensa capacidade de investimentos da economia americana, conectando políticas públicas, conhecimentos científicos, instrumentos inovadores e iniciativas empresariais. Nossos Estados possuem fundos e mecanismos criados especialmente para responder à emergência climática, disponíveis para aplicação segura e transparente de recursos internacionais, garantindo resultados rápidos e verificáveis.
Assim, é possível viabilizar ações descentralizadas, em múltiplos pontos do território brasileiro, possibilitando a proteção de biomas nativos; a restauração de áreas degradadas; a inclusão de comunidades locais com capacitação planejada e geração de muitos empregos; e a incorporação de empresas, em diversas cadeias econômicas verdes, integrando as economias do Brasil e dos EUA, nos eixos de bioenergia, agricultura de baixo carbono, energias renováveis e bioeconomia de floresta em pé, com uso de modernas tecnologias para agregação de valor aos produtos da floresta, promovendo práticas sustentáveis de comércio internacional.
Juntos, podemos constituir com agilidade a maior economia de descarbonização do planeta, criando referências para impulsionar a transição da economia mundial para um modelo carbono neutro, orientando uma retomada verde pós-pandemia. Os Estados brasileiros têm enormes capacidades de contribuir com a captura de emissões globais, aumentando a ambição da NDC nacional, reduzindo a pobreza, desenvolvendo novos arranjos econômicos e fortalecendo comunidades indígenas.
Certos do alto nível de convergência de interesses e desejando tempos saudáveis para nossos povos, ficamos abertos para estabelecer um canal de interação com o seu governo para avançarmos em passos práticos.
A terrível pandemia atual, somada à urgência climática, exigem ações imediatas para evitar novas doenças planetárias, tendo como princípio a união de nações, conhecimentos, capacidades e, sobretudo, solidariedades e sonhos que nos elevem a um novo patamar de sabedoria coletiva. Unir esforços imediatamente para vacinação é a maior prioridade.
Acreditamos que é possível iniciar aqui um novo ciclo de evolução civilizatória, tornando o nosso continente mais justo, sustentável, inclusivo e próspero, para as atuais e futuras gerações. Há muito o que reparar, restaurar, curar e construir. E também há muito a inventar para a conquista de um futuro
saudável e seguro.
Kind regards
Biden foi eleito defendendo a retomada da liderança americana na agenda de preservação ambiental. Ainda como candidato à presidência, o democrata falou em constituir um fundo de US$ 20 bilhões para ajudar a conter queimadas e preservar a Amazônia. Ele também falou em impor sanções ao Brasil para obrigar o governo Jair Bolsonaro a se comprometer com metas de preservação.
Entre os signatários da carta, estão governadores que fazem oposição a Bolsonaro – como o de São Paulo, João Doria (PSDB), e do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB) – e governadores aliados do Palácio do Planalto – como o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (DEM) e o de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo).
Assinam o documento que foi remetido a Biden os governadores de Acre, Alagoas, Amazonas, Amapá, Bahia, Ceará, Espírito Santo, Goiás, Maranhão, Minas Gerais, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Pará, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Sergipe, São Paulo, Tocantins.
“Governadores do Brasil, abaixo subscritos, de estados que compreendem 87% do território nacional, manifestamos interesse no desenvolvimento de parcerias, visando impulsionar o equilíbrio climático, a redução de desigualdades, a regeneração ambiental, o desenvolvimento de cadeias econômicas verdes e o estímulo à adoção de tecnologias para reduzir as emissões de atividades econômicas tradicionais nas Américas e o esforço conjunto na construção de um modelo civilizatório mais saudável e resiliente a pandemias”, diz outro trecho do documento.
Com CNN Brasil