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Os 32 brasileiros cruzaram a fronteira de Gaza com o Egito e seguiram pra o Brasil em aeronave Presidencial

Depois de um mês de agonia, um grupo de 32 brasileiros e familiares que aguardava repatriação em Gaza conseguiu cruzar a fronteira com o Egito, pelo Portal de Rafah. Eles fizeram a passagem no início da manhã deste domingo (12), de acordo com postagem do Itamaraty na rede social X (antigo twitter) às 05h41. De Rafah, farão um trajeto rodoviário de seis horas até o Cairo, onde dormem esta noite.

A aeronave VC2, da Presidência da República, aguarda o grupo na capital egípcia para iniciar o décimo voo de repatriação de brasileiros desde o início da crise no Oriente Médio. A decolagem está prevista para a manhã desta segunda-feira (13). Duas pessoas do grupo que constavam da lista original desistiram da repatriação e decidiram permanecer em Gaza.

Para o sucesso do resgate, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o corpo diplomático se envolveram diretamente nas negociações com as autoridades israelenses, palestinas e egípcias. Na chegada dos repatriados ao Brasil, o governo federal tem uma operação de acolhimento preparada, que vai oferecer serviços de abrigo, documentação, alimentação, apoio psicológico, cuidados médicos e imunização.

O secretário nacional de Justiça do Ministério da Justiça e Segurança Pública, Augusto de Arruda Botelho, informou que alguns repatriados têm familiares no Brasil, enquanto outros serão acolhidos em um local no interior de São Paulo, disponibilizado pelo governo.

Durante o período em Gaza, os brasileiros receberam apoio diário do corpo diplomático, que garantiu recursos essenciais e alertou a localização do grupo às autoridades israelenses na tentativa de evitar ataques miltiares nas áreas. Ainda assim, prédios próximos aos abrigos chegaram a ser bombardeados.

Quem são os 32 a caminho do Brasil

22 brasileiros de nascimento
7 palestinos naturalizados brasileiros
3 palestinos familiares próximos
17 crianças
9 mulheres
6 homens

Para especialistas, repatriação de brasileiros é vitória diplomática

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Especialistas em Relações Exteriores consideram a operação para repatriar o grupo de 32 pessoas que estava na Faixa de Gaza como uma vitória da diplomacia brasileira, sob o comando do ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, e do presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva.

O grupo cruzou a fronteira com o Egito, pelo Portal de Rafah, na manhã deste domingo (12) e deve embarcar para o Brasil nesta segunda (13). Segundo eles, mesmo com a demora na inclusão da lista de pessoas autorizadas a cruzar a fronteira, a diplomacia mostrou capacidade de negociação e coordenação nas ações.

O professor de Política Internacional e Comparada do programa de pós-graduação em Ciência Política da Universidade Federal de Minas (UFMG), Dawisson Belém Lopes disse à Agência Brasil que, com o retorno dos brasileiros, o Brasil conseguiu fazer valer o peso da sua tradição diplomática:

“Isso é muito importante, porque mesmo não sendo um dos países que se alinham automaticamente a Israel, o Brasil sempre busca, em relação a esse conflito israelo-palestino que se arrasta há décadas, uma posição de equidistância e defende a solução de dois Estados [de Israel e da Palestina].”

“Mesmo tendo esse engajamento crítico em relação ao tema, o Brasil, ainda assim, fez valer o peso da sua tradição, a capacidade de trazer para o seu território os seus cidadãos e isso me parece muito positivo. É um sinal que é emitido, que mostra a importância do Brasil no contexto das nações”, afirmou o professor.

O professor de Política Internacional e Comparada do programa de pós-graduação em Ciência Política da Universidade Federal de Minas (UFMG), Dawisson Belém Lopes disse à Agência Brasil que com o retorno dos brasileiros o Brasil conseguiu fazer valer o peso da sua tradição diplomática. Foto: Arquivo Pessoal
Para professor Dawisson Belém Lopes retorno dos brasileiros faz valer peso da tradição diplomática do país – Arquivo pessoal

Na avaliação de Lopes, mesmo que nas primeiras listas de pessoas autorizadas a deixar Gaza constassem nomes de estrangeiros de países mais alinhados com Israel, o Itamaraty soube conduzir bem as tratativas para repatriar os brasileiros. A primeira lista, que saiu na quarta-feira dia 1° de novembro, autorizou um grupo de 450 estrangeiros a deixar o enclave.

Dos 3.463 estrangeiros autorizados a sair da Faixa de Gaza até a última quarta-feira (8), 1.253 têm passaporte dos Estados Unidos, o que representava 36,1% do total. O principal aliado de Israel na guerra que o país declarou contra o Hamas lidera a lista de nacionalidades autorizadas a deixar a região, até agora.

Além dos Estados Unidos, outros oito países tiveram mais de 100 nacionais autorizados a sair da Faixa de Gaza. Essas nove nações somam 86% do total de estrangeiros autorizados a cruzar a fronteira com o Egito. A segunda nacionalidade mais beneficiada foi a Alemanha, com 335 pessoas, o que representa 9,6% do total. Os brasileiros só foram incluídos na sétima lista.

“Neste momento, Gaza é o território que sofre uma investida militar muito intensa de Israel e, naturalmente, todo mundo que está naquele território está correndo risco de morte. Por isso que é tão importante, tão urgente, repatriar os brasileiros. E, no agregado, eu diria que o Brasil conseguiu não só o objetivo de trazer essa primeira leva de brasileiros, os que primeiro haviam solicitado o retorno, repatriação, mas também em um tempo célere, porque se considerarmos que nas levas anteriores vieram praticamente apenas aqueles cidadãos dos países que são aliados de primeira hora de Israel, o Brasil conseguiu negociar bem os termos dessa repatriação”, apontou o professor.

Lopes avaliou ainda que a relação com Israel sofreu um desgaste após o episódio envolvendo o embaixador do país no Brasil, Daniel Zonshine, que participou, na quarta-feira (8), na Câmara dos Deputados de uma reunião com o ex-presidente Jair Bolsonaro e parlamentares de direita. Na ocasião, ele exibiu um filme com imagens do ataque do Hamas no dia 7 de outubro.

“É natural que haja um estranhamento brasileiro em relação ao que foi feito, sobretudo pelo embaixador de Israel no Brasil. Me parece que ele cruzou uma linha. Ele tentou por caminhos que não são os mais aconselháveis na prática diplomática convencional. Ele tentou influenciar os rumos do debate doméstico brasileiro, envolvendo inclusive um político cujos direitos políticos foram caçados. Um político inelegível, um ex-presidente da República. Isso é grave, me parece problemático.”

Entretanto, Lopes não acredita em uma mudança na relação diplomática com Israel, já que o Brasil tem relações históricas com o país do Oriente Médio.

“Há relações entre os dois Estados que são importantes, que extrapolam o nível governamental, que vão além do atual governo de Israel. Então, isso deve ser sempre calculado com muita calma, com muita cautela, com muita racionalidade. Esse é o domínio da diplomacia. A diplomacia não pode reagir de forma temperamental. Tem que sempre ser muito racionalizada essa resposta do Estado brasileiro. Então, eu acho que essa relação vai passar por uma reavaliação a partir de agora, mas eu não vejo no meu horizonte a perspectiva de ruptura”, avaliou Lopes. “A questão é intrincada, nós sabemos que ainda há muitos brasileiros em território palestino”, concluiu.

Neste domingo (12), em entrevista à imprensa, o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, foi questionado sobre o episódio envolvendo Zonshine, mas limitou-se a dizer que não o conhecia: “não conheço”. O chanceler não respondeu sobre a possibilidade de convocar Zonshine para dar explicações sobre a reunião. Na linguagem diplomática, convocar um embaixador estrangeiro é um gesto importante e que demonstra a gravidade de um assunto para o país anfitrião.

Diplomacia

O monitor do Observatório de Política Externa e Inserção Internacional do Brasil (OPEB), curso de Relações Internacionais da Universidade Federal do ABC (UFABC) Bruno Fabrício da Silva considera que a operação de repatriação também representou uma vitória da diplomacia brasileira, mas que houve uma demora “excessiva”. Foto: Arquivo Pessoal
Bruno Fabrício da Silva considera operação de repatriação uma vitória da diplomacia brasileira – Arquivo pessoal

O monitor do Observatório de Política Externa e Inserção Internacional do Brasil (Opeb), curso de Relações Internacionais da Universidade Federal do ABC (UFABC) Bruno Fabrício da Silva considera que a operação de repatriação também representou uma vitória da diplomacia brasileira, mas que houve uma demora “excessiva”, para autorizar a saída de cidadãos de países aliados de Israel, como os Estados Unidos e a maioria das potências ocidentais.

“A participação direta do presidente e do corpo diplomático em negociações com as autoridades israelenses, palestinas e egípcias destaca o comprometimento do Brasil em proteger seus cidadãos em situações de conflito. Além disso, o suporte oferecido durante o período em Gaza como garantir recursos essenciais e alertar sobre a localização do grupo às autoridades israelenses mostra a atuação proativa da diplomacia brasileira em situações de crise”, afirmou da Silva à Agência Brasil.

Para o pesquisador, após a repatriação, o Brasil pode se posicionar de maneira mais assertiva para condenar os ataques de Israel, como já indicado pelas declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que classificou a situação como genocídio.

“O presidente Lula já demonstrou uma postura mais incisiva ao classificar os acontecimentos como genocídio e ao condenar energicamente as ações militares israelenses. A meu ver, a decisão de adotar uma postura mais incisiva pode envolver o risco de prejudicar as relações bilaterais com Israel e seus aliados, mas também pode ser percebida como uma resposta ética e humanitária à gravidade da situação”, avaliou.

Ele aponta ainda que a repatriação dos brasileiros pode, no entanto, ser vista como um movimento alinhado com a postura de outros países sul-americanos, que aumentaram o tom diplomático em reação aos ataques israelenses em Gaza, a exemplo do Chile, da Colômbia, da Bolívia e da própria Jordânia, que convocaram seus embaixadores para consultas.

“A decisão de outros países sul-americanos de aumentar o tom diplomático também pode influenciar o Brasil a adotar uma postura mais firme. No entanto, em situações de crise humanitária e violações graves de direitos humanos, como no conflito entre Israel e Palestina, há pressões crescentes para que os Estados adotem posições mais firmes e expressem claramente sua posição ética e moral sobre os eventos”, pontuou da Silva.

“Em certas situações, é necessário mudar o paradigma diplomático e o peso do Brasil no sistema internacional pode, com uma decisão mais incisiva, de certa forma trazer uma visão mais dura à condenação das ações de Israel em Gaza”, acrescentou.

Colapso

A professora de História Árabe do Departamento de Letras Orientais da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (USP) e atual diretora do Centro de Estudos Árabes da USP, Arlene Elizabeth Clemesh, também considera que o Brasil deve subir o tom na relação diplomática com Israel.

Especialista consideram operação de repatriamento de brasileiros como vitória diplomática. Foto: Arquivo Pessoal
Para a professora Arlena Elisabeth Clemesh Brasil deve sinalizar de forma clara discordância com postura de Israel- Arquivo pessoal

Arlene avalia que o governo deve sinalizar de maneira enfática que não concorda com o que Israel vem fazendo na Faixa de Gaza e na Cisjordânia. Ela também defende a revogação dos acordos militares e de segurança já firmados com Israel.

“É isso que se espera do governo brasileiro, agora que os brasileiros foram liberados. Também seria o caso de considerar uma sinalização de desagrado, na forma da chamada do nosso embaixador em Tel Aviv. Mas o mais importante é a ruptura dos contratos militares e de segurança. Só assim, com o cancelamento de contratos em vários países do mundo, o governo israelense será pressionado a parar o tratamento dado ao povo palestino”, disse a professora à Agência Brasil.

“Gaza, é muito importante que se entenda, colapsou. A sobrevivência hoje em Gaza é do mais apto, do mais resiliente, do que tem sorte de não ser ferido gravemente e conseguir se defender. Incubadoras foram desligadas por falta de energia elétrica e, até onde tenho conhecimento, dois bebês já faleceram. Não há condições mínimas de vida em Gaza. O que está acontecendo é uma combinação de genocídio com limpeza étnica”, criticou.

Arlene também disse que as primeiras listas de pessoas autorizadas a deixar Gaza só beneficiavam países com alianças estreitas com Israel, como Estados Unidos, Alemanha, Reino Unido, França e Ucrânia, mas apontou o retorno como um vitória da diplomacia.

“Os brasileiros eram poucos, comparados às mencionadas nacionalidades, que já estavam alocados próximo à fronteira com o Egito, próximo à passagem de Rafah”, observou.

“A libertação dos brasileiros de Gaza, para que pudessem vir ao Brasil em segurança, foi uma enorme vitória para a diplomacia e para o governo brasileiro. Desde os primeiros dias desse ataque a Gaza, o Escritório Permanente de Representação Brasileira na Palestina vinha trabalhando intensamente para organizar logística e diplomaticamente a saída dos brasileiros. O empenho foi muito grande em todas as esferas, mobilizando o Itamaraty, o chanceler e o próprio presidente Lula”, acrescentou.

O grupo de brasileiros que estavam em Gaza chegam ao Brasil nesta segunda receberão atendimento médico e psicológico em Brasília 

Os brasileiros e seus familiares palestinos que deixaram a Faixa de Gaza chegam nesta segunda-feira (13) ao Brasil. O governo federal já tem uma operação de acolhimento pronta para o grupo, como atendimento médico e psicológico e regularização de documentos. 

VOLTANDO EM PAZ: Os 32 brasileiros e familiares acabaram de chegar em segurança ao hotel no Cairo, onde foram recebidos pela equipe médica da FAB, que os aguardava no local. Foto: Presidência da República/Twitter

VOLTANDO EM PAZ: Os 32 brasileiros e familiares acabaram de chegar em segurança ao hotel no Cairo, onde foram recebidos pela equipe médica da FAB, que os aguardava no local. Foto: Presidência da República/Twitter – Presidência da República/Twitter

Os repatriados receberão apoio psicológico, cuidados médicos e imunização e terão um período de repouso em Brasília, em alojamento da Força Aérea Brasileira (FAB), antes de se deslocarem para outras cidades no Brasil. De acordo com o Ministério da Saúde, a Força Nacional do Sistema Único de Saúde (SUS) está sendo mobilizada para oferecer aos repatriados os cuidados em saúde necessários logo no momento de chegada ao Brasil, em Brasília. 

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“A oferta no momento da recepção envolve cuidados psicológicos e clínicos, incluindo urgências e emergências que possam surgir. A equipe será formada por cinco profissionais da saúde: um médico, um enfermeiro e três psicólogos. Além disso, será disponibilizada uma ambulância do Samu/DF, tipo UTI móvel, com médico e enfermeiro, se houver necessidade de atendimento especializado em unidade da rede de saúde”, explicou a pasta, em resposta à Agência Brasil

– Relembre os momentos de tensão dos brasileiros em Gaza

Ao chegarem ao Brasil, também será feita a regularização migratória, pela Polícia Federal, e a emissão de outros documentos que permitam o acesso a serviços públicos e ao emprego. 

De acordo com o Ministério da Justiça e Segurança Pública, algumas pessoas têm familiares no Brasil, enquanto outras serão acolhidas em um local no interior de São Paulo, disponibilizado pelo Ministério do Desenvolvimento Social.

O grupo a caminho do Brasil tem 22 brasileiros de nascimento, sete palestinos naturalizados brasileiros e três palestinos familiares próximos. Dos 32 repatriados, 17 são crianças, nove mulheres e seis homens.

Voltando em Paz

Este será o décimo voo da Operação Voltando em Paz, do governo federal, que cumpre mais uma missão de repatriação em áreas de conflito no Oriente Médio. A aeronave VC-2, cedida pela Presidência da República, está há quase um mês no Egito para o resgate dos repatriados oriundos da Faixa de Gaza. Os outros voos partiram de Tel Aviv, em Israel, e de Amã, na Jordânia, com brasileiros que estavam no território palestino da Cisjordânia. 

Com os dez voos, a Operação Voltando em Paz terá transportado um total de 1.477 passageiros, além de 53 animais domésticos. Do total, foram 1.462 brasileiros, 11 palestinos, três bolivianas e uma jordaniana.

No dia 7 de outubro, o Hamas, que controla a Faixa de Gaza, lançou um ataque surpresa de mísseis contra Israel e a incursão de combatentes armados por terra, matando civis e militares e fazendo centenas de reféns israelenses e estrangeiros. Em resposta, Israel bombardeou várias infraestruturas do Hamas, em Gaza, e impôs cerco total ao território, com o corte do abastecimento de água, combustível e energia elétrica.

Os ataques já deixaram milhares de mortos, feridos e desabrigados nos dois territórios. A guerra entre Israel e Hamas tem origem na disputa por territórios que já foram ocupados por diversos povos, como hebreus e filisteus, dos quais descendem israelenses e palestinos

Via Agência Brasil

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