O aluno de graduação do curso de licenciatura em Química da Fafidam (Faculdade de Filosofia Dom Aureliano Matos), da Universidade Estadual do Ceará (Uece), Matheus Nunes da Rocha, teve trabalho sobre uso de um composto natural extraído de frutas cítricas no combate à zika e à Covid-19 divulgado na revista Journal of Computational Biophysics and Chemistry de abril.

O estudo foi desenvolvido com a colaboração das professoras Daniela Ribeiro Alves (Química-CCT), Márcia Machado Marinho (Fecli) e Selene Maia de Morais (Química-CCT), sob coordenação do professor Emmanuel Silva Marinho, coordenador do grupo de Química Teórica e Eletroquímica (GQTE/Fafidam).

Segundo o professor Emmanuel Marinho, três polos da Uece – Fecli, CCT e Fafidam – se uniram para buscar alternativas de combate à Covid-19 – doença que resultou na pandemia que, desde o ano passado, vem levando a milhões de mortes e de infecções em todo o mundo – e à febre zika, doença transmitida pelo mosquito Aedes aegypti. A pesquisa consiste em usar o composto tangeretina, encontrado na casca de frutas cítricas, em maior quantidade na tangerina. O estudo concluiu que a substância atua como agente terapêutico no tratamento e no combate ao coronavírus e ao zika vírus.

O professor Emmanuel Marinho explica que o projeto se encontra na primeira etapa. Os pesquisadores elaboraram simulações teóricas e ainda não iniciaram as fases em laboratório. “Pegamos uma estrutura que já conhecíamos, a tangeretina, e fizemos toda a pesquisa em processo computacional; nada foi feito ainda em bancada de laboratório. Sabemos que muitas pessoas usam chás para combater gripes e, a partir do conhecimento popular, buscamos bases bibliográficas e encontramos referências que indicam a tangeretina como potencial antiviral, já comprovado cientificamente. Importante ressaltar que esse trabalho é a primeira etapa da pesquisa, e a tangeritina deverá ser testada in vitro. Essa primeira fase computacional ajuda no desenvolvimento mais rápido da pesquisa, não sendo necessário testar em animais nessa fase inicial”, detalha o professor Emmanuel.

Com início há um ano aproximadamente, o projeto é intitulado Virtual Screening of Citrus Flavonoid Tangeretin: A Promising Pharmacological Tool for the Treatment and Prevention of Zika fever and COVID-19. O estudo destaca que é de grande importância para a indústria farmacêutica encontrar substâncias terapêuticas extraídas de fontes naturais e abundantes, obtidas com baixo custo e apresentando potencial antiviral para o tratamento do vírus da zika e do coronavírus.

O autor da publicação, o estudante de licenciatura em Química da Fafidam, Matheus Nunes da Rocha, compartilha a satisfação de estar representando a Uece na pesquisa, sobretudo em um momento tão adverso como o da pandemia da Covid-19. O estudante explica que, inicialmente, os estudiosos pesquisaram grupos moleculares de fontes naturais que possuíam atividade contra doenças respiratórias, no caso os flavonoides cítricos. A equipe constatou que a tangeritina está em fase de investigação e possui atividade contra as SRV (síndromes respiratórias virais) e pode ser isolada da casca da tangerina.

A partir daí, os pesquisadores otimizaram a estrutura molecular em nível quântico, para obter uma geometria de energia mínima para interagir com a proteína da replicação do coronavírus, a Mpro SARS-CoV-2. Matheus explica que a simulação é um docking (ancoragem) molecular, que leva em consideração as interações eletrostáticas da molécula com os sítios ativos da proteína do vírus.

“A simulação mostrou que existe a possibilidade de se consumir a tangeretina simultaneamente com o medicamento Baricitinib, pois elas interagem com a proteína do vírus em sítios diferentes. Esse é um resultado promissor, porque ambas as substâncias não resultariam em hepatite medicamentosa se consumidas simultaneamente, ao contrário do consumo simultâneo da azitromicina e ivermectina”, esclarece o estudante.

Ele acrescenta que a substância é facilmente absorvida no intestino e só é tóxica em altas dosagens, o que permite o controle da dose sem resultar em toxicidade.

Zika vírus

Matheus explica que as interações da tangeretina com a proteína do zika vírus mostraram que a substância também é um forte inibidor do vírus. Enquanto o tratamento contra a Covid-19 prevê o uso suplementar do Baricitinib, medicamento indicado para o tratamento da artrite reumatoide, as simulações indicam que a tangeretina pode ser consumida isoladamente para o tratamento da zika.

O artigo completo dos pesquisadores está disponível em: https://www.worldscientific.com/doi/abs/10.1142/S2737416521500137

Outros estudos

O professor Emmanuel Marinho cita, ainda, a contribuição da Uece em outras três pesquisas desenvolvidas no combate à Covid-19, também publicadas em revistas internacionais. Em mais um trabalho envolvendo a Fecli, a Fafidam e o CCT, foi investigado o potencial da curcumina (substância extraída da raiz da cúrcuma) no tratamento contra a doença. O artigo intitulado Virtual Screening of Natural Curcumins and Related Compounds Against SARS-CoV-2 foi publicado no Journal of Computational Biophysics and Chemistry e pode ser acessado em https://www.worldscientific.com/doi/10.1142/S2737416521500046.

Ainda de acordo com o professor Emmanuel Marinho, em parceria com a Universidade Federal do Ceará (UFC), pesquisadores da Uece desenvolveram o estudo Virtual screening based on molecular docking of possible inhibitors of Covid-19 main protease, que investigou o potencial da hidroxicloroquina contra a Covid-19. O projeto foi publicado na revista Elsevier e está disponível em https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/32619669/.

O pesquisador menciona ainda uma parceria envolvendo Uece, UFC, Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA), Universidade Regional do Cariri (Urca) e Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), em que a equipe está sintetizando novas moléculas com potencial para coibir a Covid-19. Também publicado na Elsevier, trata-se do estudo In silico study of the potential interactions of 40-acetamidechalcones with protein targets in SARS-CoV-2. O artigo pode ser acessado em https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/33387885/.

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