Segundo os profissionais, homem xingou e ameaçou a equipe, além de bater contra a câmera de repórter cinematográfico da TV Tribuna, afiliada da Rede Globo na Baixada Santista e Vale do Ribeira.
Uma equipe de jornalistas da TV Tribuna, afiliada da Rede Globo na Baixada Santista e no Vale do Ribeira, foi ofendida por um apoiador do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) em Guarujá, no litoral de São Paulo, na noite de sexta-feira (8).
Além disso, o homem, identificado como Armando Izzo, chegou a bater contra a câmera de um repórter cinematográfico, que conseguiu gravar toda a ação.
veja o vídeo:
Bolsonaro chegou a Guarujá na noite de sexta-feira(08) para passar o feriado prolongado de Nossa Senhora Aparecida. A repórter Thaís Rozo, da TV Tribuna, relata que a equipe estava fazendo a cobertura da chegada do presidente, e que, no momento das ofensas, estava indo para a frente do Forte dos Andradas, local de estadia do presidente, para gravar.
“Esse senhor estava na porta [do Forte dos Andradas], e quando viu que éramos da imprensa, falou que, se fosse a Globo, não iria deixar gravar. Quando ele virou para o lado, viu nosso microfone e começou a gritar que éramos lixo, e todo o resto que dá para ouvir no vídeo. Estamos trabalhando, fazendo o nosso melhor para informar a população, e temos ainda que ouvir coisas assim. É um absurdo e uma situação horrível. Além de tudo, ele nos ameaçou, disse que tinha bala e iria voltar para ‘dar bala’ na gente. Precisamos de respeito”, desabafa.
Um dos repórteres cinematográficos da TV Tribuna que estavam no local, Hélio Oliveira – que estava segurando a câmera no momento em que o homem bateu no equipamento -, afirma que o agressor estava bastante alterado. “Eu só estava fazendo meu trabalho, pedimos para ele nos deixar trabalhar, mas ele não parou em nenhum momento de xingar a equipe. O que aconteceu foi uma agressão. É um absurdo pessoas trabalhando à essa hora ainda passarem por algo assim”, diz.
Nos vídeos gravados pelos próprios jornalistas, o homem aparece disparando vários xingamentos contra a equipe. Em determinado momento, ele diz “cambada de vagabundo, secou as tetas, seus filhos da p***. Nessa hora, um dos profissionais diz: “Quem está na rua está trabalhando”. E o homem responde “que trabalhando o cac***. Em seguida, ele diz que fala o que quiser, o que é reforçado pela mulher que o acompanha.
Izzo ainda diz que foi “coronel na época da ditadura”, mas o g1 não conseguiu confirmar esta informação até a última atualização desta reportagem. O g1 também tentou contato com ele, mas não obteve retorno.
Agressão
A repórter de A Tribuna Nathália de Alcantara, que também acompanhou a situação, lamentou o ocorrido. “É um absurdo sermos agredidos tão covardemente dessa forma durante o nosso trabalho. Além dos xingamentos, um senhor com essa idade ainda agrediu fisicamente nosso amigo Helio na frente de todos. Mas, o nosso comprometimento de informar e levar a notícia para a população segue acima de tudo isso”, afirma.
Segundo os jornalistas, a Polícia Militar foi acionada, mas ouviu o homem e o liberou. Outros dois profissionais que participavam da cobertura afirmam que também ficaram chateados com a situação. O repórter fotográfico Matheus Tagé, de A Tribuna, relata que o cinegrafista Helio estava com a câmera bem próxima ao rosto quando o homem bateu no equipamento.
“Logo que cheguei, acompanhando a comitiva [presidencial], notei este senhor falando alto e dizendo que era coronel, e que, por isso, o Bolsonaro deveria ter parado para saudá-lo. Achei que fosse piada. [Durante as ofensas], falamos que estávamos trabalhando, mas independentemente do argumento, ele ficava cada vez mais nervoso. Após entrar no carro e acelerar como se fosse utilizar o automóvel como arma em cima da imprensa, policiais o abordaram, e após mostrar o documento na carteira, foi liberado normalmente”, relata.
O segundo repórter cinematográfico da TV Tribuna que chegou ao Forte dos Andradas, Abner Reis, informou que estava acompanhando a chegada do presidente desde a Base Aérea, em Guarujá, e que, logo que chegou ao local de estadia de Bolsonaro, já ouviu o homem ofendendo a emissora.
“Ele disse que ‘a mamata acabou’, quando estávamos ali às 21h, embaixo de chuva, trabalhando de forma honesta. Não dá para trabalhar de uma forma tranquila com pessoas assim por perto”, lamentou.
Em nota, a Polícia Militar esclareceu que as imagens serão encaminhadas ao CPI -6, comando de policiamento responsável pela Baixada Santista, para que sejam analisadas e feita a possível identificação do homem que aparece nas imagens.
Sindicato dos Jornalistas
O Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo (SJSP) emitiu uma nota de repúdio contra o episódio. Confira os principais pontos:
“O Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo [SJSP] repudia as agressões sofridas pelos jornalistas que estavam na cobertura da chegada do presidente Jair Bolsonaro a Guarujá, na noite de sexta-feira, dia 8.
No dia em que o trabalho primordial da imprensa foi reconhecido e premiado com o Prêmio Nobel da Paz, um homem identificado como Armando Izzo agrediu o repórter cinematográfico Helio Oliveira com um tapa em seu equipamento e agrediu, com xingamentos, os jornalistas que estavam no cumprimento de seu dever profissional.
Tal postura tem como exemplo as costumeiras agressões do presidente da República aos jornalistas, demonstrando um total desrespeito à liberdade de imprensa e aos profissionais, que têm como missão informar e zelar pela transparência no poder público.”
O caso foi levado ao diretor da Polícia Civil da Baixada Santista e do Vale do Ribeira, Manoel Gatto, que declarou que irá lavrar o boletim de ocorrência na segunda-feira (11).
O SJSP considera o ataque aos jornalistas um atentado à democracia e ao direito fundamental do cidadão à informação, acompanhará o desenrolar do caso e cobrará das autoridades uma atitude enérgica contra esse tipo de agressão”.
Com informações do G1