Após 20 dias de internação, Altair Almeida, de 65 anos, recebeu alta no início de abril
Em 2018, o advogado Altair Almeida, de 65 anos, foi diagnosticado com fibrose pulmonar idiopática, uma doença crônica que cicatriza os pulmões e compromete a respiração. Inicialmente, não imaginava a gravidade da condição. “Achei que tomaria medicações e ficaria bom, mas não foi o que aconteceu. Com o tempo, as limitações foram chegando, passei a precisar de oxigênio, as internações se tornaram recorrentes, até que a única alternativa foi o transplante de pulmão”, relembra.
Os dias difíceis, de incertezas e de adaptações deram lugar à esperança, quando Altair foi submetido a um transplante unilateral de pulmão, no Hospital de Messejana Dr. Carlos Alberto Studart Gomes (Sesa), da Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa), referência no tratamento de doenças pulmonares de alta complexidade. Após 20 dias de internação, ele recebeu alta no último dia 1° de abril. “Não foi fácil. Quando recebi a indicação para o transplante, recusei, não aceitava. Mas a doença evolui e chega um momento que ou você aceita e luta, ou deixa de respirar. Graças a Deus, à minha esposa e a equipe do HM, hoje podemos testemunhar esse milagre”, conta emocionado.
Tratamento fora de domicílio
Para ter acesso ao tratamento, Altair precisou mudar de cidade. Atualmente, somente São Paulo, Porto Alegre e Fortaleza possuem centros transplantadores de pulmão. Pelo Programa de Tratamento Fora do Domicílio (TFD), do Ministério da Saúde, — que garante atendimento médico a pacientes cujas doenças não podem ser tratadas em seus municípios de origem, ele foi encaminhado à capital cearense.
“Minha esposa é cearense e, como temos parentes aqui, fomos encaminhados para Fortaleza. Sempre gostei da hospitalidade, do clima e sempre passeávamos por aqui. Não estava nos planos morar, mas as coisas acontecem como tem que ser. Estou feliz! O sim de uma família cearense me salvou”, diz.
A espera pelo órgão e a distância da família trouxeram desafios. No entanto, Altair destaca o acolhimento que recebeu no Hospital de Messejana. “Recebi todo o suporte dos profissionais do ambulatório e, na reabilitação pulmonar, ganhei muito mais que qualidade de vida. Encontrei um novo hábito, a prática de atividade física, e fiz amigos para a vida toda”, conta.

Correndo contra o tempo, Francis Almeida, esposa de Altair, promoveu diversas campanhas nas redes sociais, para reforçar a importância da doação de órgãos
Preparação para o transplante
O transplante de pulmão é uma cirurgia complexa que requer avaliação criteriosa e uma equipe especializada. A pneumologista Lucyara Catunda, da equipe de transplante pulmonar do hospital, explica que o processo inclui exames para verificar a saúde do paciente e a compatibilidade com o órgão doado.
“O pulmão é um órgão delicado, e isso impacta na taxa de aproveitamento. Muitas vezes, quando a equipe chega para avaliar o órgão, ele está infectado, e a captação é contraindicada”, explica.

A fibrose pulmonar idiopática é uma doença crônica e progressiva, sem causas definidas, que causa cicatrizes nos pulmões, dificultando a respiração
Após o transplante, a reabilitação pulmonar é essencial. “Pacientes com doenças pulmonares crônicas perdem capacidade funcional à medida que a doença progride. O programa de reabilitação ajuda a recuperar a capacidade respiratória e a qualidade de vida”, afirma Catunda.
Além do programa de exercícios personalizados e monitorados, a reabilitação conta com uma equipe multiprofissional, incluindo nutricionistas, psicólogos, fisioterapeutas, terapeuta ocupacional e assistente social.
Referência nacional
O Hospital de Messejana é referência em transplantes de pulmão no Norte e Nordeste. Desde 2011, pacientes com doenças respiratórias graves, como fibrose pulmonar, fibrose cística e hipertensão pulmonar, passaram a ter acesso ao procedimento pelo Sistema Único de Saúde (SUS), sem precisar viajar para outros estados.
Nos últimos 13 anos, a unidade realizou 56 transplantes de pulmão. Atualmente, oito pessoas estão listadas aguardando a doação do órgão para o procedimento.
Como se tornar doador de órgãos
Histórias de superação como a de Altair só tiveram um final feliz graças a solidariedade de uma família. Para doar órgãos e tecidos, é essencial informar a família sobre o desejo, pois a família é quem vai autorizar a doação. O Ceará realiza transplantes de rim, fígado, pulmão, pâncreas, coração, medula óssea, córnea e válvulas cardíacas.